Sempre ouvi dizer que a confiança é como um copo que se parte e tenta reconstruir mas que nunca volta a ser digno de se beber novamente. Não concordo. Acho que os copos se fazem rápido demais para o tempo que a confiança plena demora a ser atingida.
Nem sempre pensei assim. Costumava confiar sempre ao início e isso só mudava se por ventura a traíssem, aí sim, seria irrecuperável. Mas todos crescemos e aprendemos a ver que o mundo nem sempre é feito de pessoas boas. E seremos nós próprios dignos dessa confiança? Qual será o nosso limite de lealdade para com alguém? Será que tem um preço? Um condicionante? Um sentimento até? Não sei.
A única coisa que sei decerto é que quando uma dessas pessoas a quem entregaríamos as mãos de olhos fechados sobre uma fogueira que ameaçasse queimar, aparece, não existem limites para o que faríamos por elas.
Acredito que o amor provém da confiança e não ao contrário. Confiar e não amar não é absurdo, mas em planeta algum se ama sem confiança. Até porque como iríamos nós, na nossa consciência, entregarmo-nos a alguém em quem não confiássemos sem restrições? Penso nisso como uma missão suicida afetivamente.
Sou, então, defensora que a base de uma relação é a confiança, seja ela amorosa ou não. Que seria de mim se a minha melhor amiga não fosse um poço de certeza e convicção? E quando é mútuo em ambas as pontas do relacionamento, decerto que ele durará. Ou duraria se o ser humano não tivesse, por entre as suas infinitas imperfeições, o dom de errar.
Julgava estar apaixonada por aquele que viria a ser o rapaz com quem seria feliz durante muitos e longos anos. E o mesmo se aplica agora que voltei a conseguir sentir amor e confiança em alguém. Tudo naquilo que tínhamos me fascinava e sentia-me bem com isso até o ter magoado. Foi insignificante e mínimo, mas o meu consciente só pensava em como, durante uns segundos, o coração dele esteve triste e a culpa fora minha. E esses segundos pesavam mais que bilénios de sensações boas que lhe poderia oferecer. Dali para a frente, tudo girava em volta dele, era a minha forma de tentar remediar o que tinha feito. Mas por mais que fizesse, nada me tirava o peso do mal que lhe causara e isso era sufocante. Sufocante o suficiente para não conseguir voltar a estar perto dele e acabei por magoa-lo ainda mais. Tentar remediar as coisas era como uma bola de neve que cada vez me custava cada vez mais impedir de crescer. Penso que magoar alguém em quem confiamos e, consequentemente, amamos, é pior que ser magoado. Naquela altura só desejava que tudo aquilo nunca tivesse acontecido, que ele nunca tivesse um pensamento menor que a felicidade infinita por minha causa. Odiava-me por ter destruído a beleza que tínhamos juntos porque sabia que a culpa tinha sido minha. Essa culpa consumiu-me. E à nossa relação também.
Passado tanto tempo, ainda não consigo escrever sequer sobre isso sem sentir um aperto tão grande no peito que me faz ficar sem ar e uma cabeça tão pesada que dói como se tivesse sido injetada com cimento. E temo que assim seja para sempre. Ou pelo menos um para sempre quase literal.
Se não sou capaz de viver sabendo que magoei alguém e se a minha existência como humana me obriga a fazê-lo, como conseguirei eu estar nesta contradição? E é por isto que tenho medo de o adorar como adoro. Porque nunca vou ser capaz de o não magoar de uma maneira ou outra e também sei que não vou ser capaz de viver com isso.
Tenho mais cuidado com o coração dele que com o meu, é isso que se faz quando de gosta e se alguma vez acabar por lhe fazer mal, a minha culpa vai destruir-nos também.
sexta-feira, 25 de abril de 2014
Here's where my Demons hide
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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
He knew how to save a life
Tenho descoberto em mim um poder de autocontrolo imenso que me tem vindo a ser bastante útil tendo em conta as últimas semanas ou meses. Desde que ele se foi embora que não pensei ser capaz de manter a tal relação de amizade que dissemos ter dali para a frente porque simplesmente não me imaginava na mesma sala que ele outra vez. Agradeço que esta minha faceta de Drama Queen tenha passado mais depressa do que o que veio, mas, afinal, acho que todos temos um lado que nos leva a pensar do modo mais dramático possível. É esse lado que se apaixona também. Hiperbolizando ou não, a verdade é que mexeu comigo de uma maneira que não queria que mais ninguém mexesse, especialmente se fosse para me magoar depois. Irónico é que nunca nada corre como eu quero, espero ou peço.
Depois do que senti por tudo aquilo acontecer, ou melhor, deixar de acontecer, não pensei em voltar a desenvolver interesse por ninguém tão cedo, mas a verdade é que a quantidade de pessoas maravilhosas que existem no mundo à espera de entrar na nossa vida nem sempre permite que haja essa isolação interior que parece resolver todos os males. Contudo, durante o tempo em que me refugiei em ninguém senão eu própria, aprendi a racionalizar o valor que ele tanto dizia que tinha mas no qual nunca me parecera legítimo acreditar. No fundo acho que isso influenciou o sentimento que tinha por ele, gostava mais dele do que de mim e isso não é certo. E o resultado esteve à vista. Mas como disse, inspirei nesse novo auto-reconhecimento que tinha a certeza que me ia tornar em alguém mais forte e confiante, como é suposto ser; não só pelos outros, mas por mim também.
E foi aí que o velho Ele desapareceu como sempre quis. Tudo aquilo que sentia foi embora e orgulho-me disso todos os dias. Ou pelo menos nos dias em que me lembro ou me fazem lembrar. Torna-se anedótico estar ao pé dele e não sentir nada senão amizade, amizade essa que nunca tomará outras proporções. Não só porque não quero, mas também porque não sinto que consiga.
Depois de toda esta novidade do auto-reconhecimento, passei a ser capaz de ser feliz sozinha. Não precisava que ninguém ao meu lado para me sentir bem. A minha felicidade de mim e só mim dependia e isso chegava-me. Mas da mesma maneira que um mal nunca vem só, também o bem não escapa ao ditado. Assim, conheci alguém. Alguém que me fazia rir como se o conhecesse há anos, apesar de conhecer há tão pouco tempo e que me fazia confiar nele de olhos fechados. Tinha uma maneira de falar e ver o mundo apaixonante. E tem. Claro, aos olhos de outros que não nós, estava o que iria acontecer a seguir e acabei por não me apaixonar só por ele quando falava mas também enquanto estava calado. A calma e visão simplista que me traz, nunca ninguém antes trouxera, é isso que mais gosto nele. E não preciso sequer de o dizer, porque ele sabe-o. E eu sei também pois a maneira como me trata mostra-o a milhas. Ele melhorou o meu eu interior enquanto compunha o seu também. A nossa relação é tão frágil que se torna numa muralha de um castelo vicking. A magia que ele me transmite quando estamos juntos ou a segurança que ele me obriga a ter, fazem de mim uma pessoa melhor e adoro-o por isso.
Tenho tanto ou mais cuidado com o coração dele do que com o meu próprio e isso faz-me ter um propósito. Ele costuma dizer que sou a melhor do mundo. Pode ser que um dia saiba que é tudo graças a ele.
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